Feiticeira
Performance instalativa e oficina de corpo-ambiente
Tocar o que é crucial ao aqui agora: o valor das coisas, o valor das vidas. Estamos diante de um cenário claustrofóbico na Baia de Guanabara e no Brasil com destruição das políticas ambientais, culturais, de saúde e de educação. Vemos as comunidades das águas, as da terra, as da floresta e as da cidade sendo encurraladas e respondendo com suas armas aos projetos de vazios econômicos e de políticas de morte. No meu trabalho, penso em como criar com comunidades específicas sem que esse modo devastador da organização extrativista, neocolonial e capitalista consuma a vitalidade criativa e dissidente de nosso encontro. Fazemos isso através de micro-ações e micro-encenações, no intuito de levantar outros imaginários de sobrevivência e memórias coletivas que tensione também o campo das artes. Assim aconteceu com as ações propostas para as residências artísticas realizadas na colônia - Z10 e na Ilha de Paquetá.
Na colônia Z10, a instalação performativa Feiticeira realizada junto com a artista Sofia Mussolin, foi potencializada e aconteceu com a participação direta dos moradores na performance, desde a preparação das oficinas, à escuta e colheita das vivências e materiais. Vimos materializar a metáfora da rede com suas linhas e amarrações de contato e de articulação entre os corpos e as vidas de cada um que a ergue. Os desdobramentos e multiplicidades daquele material metamorfosearam-se nas redes de trabalho, de captura e morte, e também em rede de encontros, de força coletiva e de abrigo daqueles que vivem dela. Na Colônia Z10, os dejetos que desembocam na Baía de Guanabara, passam através das redes de pesca e pelas mãos dos pescadores. São rastros tóxicos da visão moderna e masculinizada para fazer valer sua centralidade e arrastar para as margens as comunidades e as formas de vida que não colaboram diretamente com seus projetos. Então, rodeamos a colônia, empunhando e fazendo presente e viva a rede como uma materialidade feminina e vibrátil de alerta. Olhar para o mangue e sentir as suas águas como berço e sustentáculo de vidas. Abastecer as forças e retomar a importância daquela relação de comunitarismo.
Ficha Técnica
Concepção e Performance: Marcela Cavallini e Sofia Mussolin
Fotografia: Alê Paiva e Patrick Gonçalves