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A singularidade da ilha de Paquetá imersa na relação direta com as águas da Baía de Guanabara, revela o afluxo turístico habitado por histórias coloniais. Algo de fantasmático se incorpora à sua atmosfera. A face extrativista do ocidente europeu não se mostra facilmente ao presente de quem atravessa o continente desde a capital e aporta no arquipélago; há um encantamento de se chegar naquele pequeno lugarejo. A conversa com os mais antigos, para quem deseja rasgar os véus das certezas, revela os rastros desse ambiente forjado ao longo dos tempos: as marcas de sua modificação lenta, extração de calcário e destruição do manguezal, exploração petrolífera e fragilização da pesca artesanal, esgoto despejado que chega até as praias de Paquetá, contaminando-as, supervalorização da capital e a Ilha em defasagem em termos de políticas públicas.

Se o lixo, o esgoto são acúmulos e excessos gerados pela atividade humana, ambiguamente é a imagem-símbolo do que escapou ao controle desse mesmo projeto de sociedade.

Apocalipxon quer perturbar diretamente o conforto em se contemplar e admirar a beleza da Ilha frente a tais questões. Escolho como sítio o terreno da Comlurb, que recebe e descarrega diariamente todo o lixo da ilha em direção à capital, fazendo o percurso inverso ao que a Ilha recebe de esgoto e lixo nas suas águas. Minha performance é a perturbação exposta pelo meu corpo enquanto cartógrafa dessas águas. É o estremecimento que emerge junto com as vozes que escutei, com as imagens que vi e pesquisei e de como senti ao pisar aquele terreno. Nomeio a junção do lixo com o apocalipse como o legado cristão que invadiu essas terras junto à promessa de seu cruel projeto civilizatório.

Se não pudermos escapar das redes ecológicas que criamos e estamos inseridos, pois somos filhos dessas marcas, é urgente povoar as vidas de com outras forças, diferentes daquelas que tentam nos solapar.

Ficha Técnica

Concepção e Performance: Marcela Cavallini

Video e Fotografia: Sofia Mussolin

Mais informações: Territórios Sensíveis